Imagine este cenário: você está em casa com sua namorada ou namorado e vocês estão querendo ficar um tempo juntos, fazer aquele programinha de fim de semana com filminho, pipoca e refrigerante. E aí surge a dúvida sobre qual filme assistir. Um japonês, claro! Mas de qual gênero? Hum, que tal um pornográfico? Ora não é romântico o suficiente pra você? Devia ser! Se você ao menos soubesse quanto amor e dedicação eles põe neles. Pornografia lá tem um sentido totalmente diferente do nosso, apesar de ser aquela constante fricção de órgãos genitais que o termo remete. As coisas simplesmente são concebidas de forma diferente, permita-me explicar.
Como você da mente suja já deve imaginar, pornografia sempre existiu por lá. Tudo começou por volta do século XIX, com os “shunga”, que nada mais era do que arte pornográfica. Gente pelada ou gente comendo gente em livros, pinturas, esculturas ou qualquer forma de arte. Em algumas gravuras rolava até sexo com inccubus (demônio homem), succubus (demônio mulher), animais e “forasteiros”, ou seja, não-japoneses. Por volta do começo do século XX, por ações feudo-governamentais, os “shunga” foram sumindo e esta cultura da pornografia se suprimiu a ponto de quase desaparecer. Pra você ver como as coisas são.
Shunga de uma mulher sendo satisfeita por um polvo… porque sempre que pensamos em animais sexys, o polvo vem a nossa mente, não?
Provavelmente muito “shunga” foi feito às escondidas até mais ou menos os anos 60, onde a produção de revistas pornográficas e até mesmo de “pink films”, que eram filmes em que passavam em cinemas adultos, já circulavam com certa facilidade, graças às influencias da cultura americana, que era vista como inovadora para os japoneses. Aliás, é por isso que os mangás tem um papel parecido com o do jornal até hoje. Pura influência dos quadrinhos americanos, que eram publicados em folha de jornal durante a primeira e segunda guerra mundial para os soldados. Mas enfim. O estouro da indústria pornô japonesa surgiu graças ao bom e velho VHS e do Betamax, que permitiram com que muito material (amadores e produções independentes) fosse gravado. Os vídeos eram mais curtos em comparação aos reproduzidos nos cinemas adultos, então por isso ganharam o nome de AV Movies, sendo AV uma sigla para Adult Video-image. As locadoras botavam os filmes pra aluguel a um preço muito mais baixo que os cinemas adultos, o que fez a indústria sofrer um cabum instantâneo.
Além de filmes, com o tempo, foram também produzidos jogos pornográficos de videogame (sobretudo para o Atari 2600 e para o Famicom, que é o Nintendinho japonês), claro, feitos sem licença por programadores amadores. Os jogos pornográficos eram produzidos para computador também, o que no início dos anos 80 era mágico. Os hentais (animação ou HQs com conteúdo adulto) ganharam força graças aos jogos pornográficos, apesar do estilo de animação ser semelhante a desenhos já produzidos antes. Boa parte do mercado da pornografia japonesa era feita por produções totalmente independentes e por “fracassados” que adoravam desenhar obscenidades.
No início dos anos 90, quando a coisa estava tomando forma como indústria mesmo, houve o primeiro escândalo. Muitos hentais, revistas de nu e algumas produções de AV Movies continham a participação de adolescentes, que eram conhecidas como “Idols”. Hoje em dia as Idols ainda existem, mas como as Suicide Girls por aqui, só que sem toda a pinta de pin up, mas enfim. O governo e sua mão leve de ferro abaixou a lei e baniu por algum tempo as produções pornográficas em geral por conta da prática com menores (que por sinal, não era forçada e em casos, era consentida pelos pais e responsáveis). E isso só foi mudado depois de uma puta briga judicial entre produtoras profissionais e fãs contra a proibição governamental. E a lei foi amenizada sob duas condições: que parassem de usar menores nas filmagens e que cobrissem as genitálias dos atores e atrizes que participassem das filmagens, como forma de manter o pudor e preservar a intimidade dos participantes dos filmes. Particularmente, acho isso a maior incoerência da face da terra, mas eu não faço as leis. Por acaso, as proibições existem até hoje (uau!), porém, elas não valem se o AV movie for produzido para o mercado exterior ao japonês.
Hoje em dia, muito da pornografia japonesa se mantem como antigamente. As produções ganharam seu profissionalismo, com equipamentos modernos e uma produção mais competente comandando as coisas, mas ainda é comum ver filmes produzidos e dirigidos por produtores independentes. O mercado é meio fechado dentro do próprio Japão, apesar de despertar o interesse de indústrias pornográficas de outros países, que fazem parcerias em termos de verba, cambio de elenco e até produções conjuntas, que vem crescendo de uns tempos pra cá. Atualmente a indústria pornográfica japonesa é saturada de atrizes, enquanto os atores estão cada vez mais em falta, por conta daquele papo de honrar a família, além de não ser um serviço que paga bem como pagam para as mulheres. O modelo padrão de filme pornô japonês possui de quatro a seis cenas envolvendo a mesma ou as mesmas atrizes e os mesmos atores, pois o contrato que eles fecham é por filme. Existem também compilações que estúdios fazem, como nos shows do Los Hermanos em que eles fazem só pra levantar verba.
Muitos produtores e estúdios profissionais se deixam valer pela criatividade e fazem filmes criativamente bizarros, pra compensar suas faltas ou excessos. Exemplo clássico desta criatividade sadia é o bukkake. Bukkake se refere na verdade placas de tendas que vendem macarrão (!!!), mas que ganhou conotação sexual depois que foi nomeada como a prática da ejaculação de vários homens na face ou corpo de uma mulher. Pra justificar a prática aos ocidentais, eles diziam que esta era uma prática comum no Japão feudal que era usada como castigo à mulher que praticava adultério. Ela era amarrada em praça publica e poderia servir de balde de porra a qualquer um que quisesse dar uma lambuzadinha. Mas historiadores japoneses já desmentiram o boato e revelaram que isso era jogadinha de marketing deles. Muito boa, por sinal.
Já o nosso amado Brasil não tem nenhuma conexão direta com o mercado de pornografia japonesa. Não importamos formalmente material deles, mas, por incrível que pareça, ouvi falar que existem atrizes do ramo que já fizeram filmagens por lá, por conta dos estúdios japoneses. A compra de pornografia japonesa é totalmente inviável, visto que as entregas são logisticamente complicadas e no fim muita coisa acaba parada na alfândega, porém, ainda há uma resistência na internet que permite o download destes filmes (eles nos obrigam a recorrer a estes meios!). Depois de tanta história sobre estes filmes, o que você está esperando? Gaste uns minutinhos prestando sua homenagem a esta nobre arte!
Nenhum comentário:
Postar um comentário